Temas urgentes entram em cena com a programação de teatro do FIG

São 27 ações teatrais que convidam o público ao debate sobre temas como preconceito e violência de gênero

A programação de Teatro do 27º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) é um levante contra o preconceito e a intolerância. Violência contra a mulher, identidade de gênero e a livre vivência da sexualidade são algumas das temáticas que serão abordadas nas 27 ações teatrais que, entre espetáculos e bate-papos, acontecem entre os dias 21 e 29 de julho. Uma das novidades deste ano é a presença de grupos do interior do Estado na 2ª Mostra de Teatro Alternativo; e também a primeira edição do projeto Literatura na cena.

Sessenta por cento das ações são protagonizadas por artistas pernambucanos. Um dos destaques vai para o ator Alexandre Guimarães, que se apresenta no dia 24, às 18h, com o monólogo O Açougueiro. “O espetáculo existe há dois anos e já rodou oito estados no Brasil em cinco temporadas. Para mim, é uma honra muito grande levá-lo para Garanhuns, especialmente porque a minha pesquisa de campo para a elaboração do espetáculo foi realizada nos entornos da cidade, o que traz uma relevância ainda maior para este momento”, diz o ator. O Açougueiro retrata uma história de amor no Sertão Nordestino expondo detalhes do cotidiano de uma cidade pequena. Ano passado, a obra recebeu três premiações do 16º Prêmio Cenym, uma realização da Academia de Artes do Teatro do Brasil, incluindo melhor ator e melhor monólogo. “Acredito que seja uma quebra de paradigmas essa maior expressão e valorização do teatro pernambucano na programação de um dos maiores festivais do Brasil. Acho importante e fundamental esse olhar da gestão pública para os fazedores de teatro locais”, completa Alexandre.

Entre as atrações nacionais, está o paulista Rodolfo Lima, que abre o projeto Literatura na Cena com os espetáculos Réquiem para um rapaz triste, inspirado em um conto de Caio Fernando de Abreu, e Bicha Oca, inspirado em quatro textos do escritor pernambucano Marcelino Freire. O Literatura na Cena foi projetado pelas coordenações de Literatura, Artes Cênicas, Teatro e Ópera. É o primeiro ano do projeto no FIG e foi criado para ser um espaço de diálogo entre a Literatura e o Teatro.

“Acho de extrema importância esse diálogo entre a literatura e a dramaturgia. Se você olhar pra trás, muitas peças surgem de textos literários. Estou feliz por levar os meus trabalhos para o FIG e contar um pouco da minha experiência”, diz o ator. Além da ligação com a literatura, o trabalho de Rodolfo tem a característica de inserir o espectador na cena, se utilizando de locais não convencionais e nenhum tipo de recurso que o roube daquela realidade. Os dois espetáculos que ele traz para Garanhuns têm 15 e 8 anos de existência, respectivamente, e já passaram por diversos estados do Brasil a exemplo de Rio Grande do Norte, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia e Ceará. Réquiem para um rapaz triste retrata momentos da personagem Alice, uma mulher solitária e apoiada no cigarro que fala sobre suas escolhas. Foi o primeiro trabalho do Rodolfo, apresentado no Recife no ano passado. Bicha Oca é inspirada em contos homoeróticos do autor Marcelino Freire e retrata a realidade do personagem Alceu rememorando hábitos do passado, suas histórias amorosas e sexuais. “O que tenho percebido é que, apesar da surpresa e da euforia, o público vem absorvendo as cenas como arte porque acabam se envolvendo com a história do personagem. Então essas questões ganharam um outro lugar frente a esse novo olhar. Foi um risco fazê-lo e fui feliz”, explica o ator.

“Ao trazer questões marcantes e polêmicas, como corrupção e intolerância religiosa e sexual, para o público dentro dos espetáculos, nós abrimos espaço para o debate, o que é de extrema importância porque são temas urgentes. O Teatro, sempre, foi vanguardista nesse sentido e deixa uma mensagem que transcende as fronteiras do espetáculo, elas são levadas para a vida”, diz o curador da programação de Teatro do FIG, José Neto Barbosa.

A 2ª Mostra de Teatro Alternativo do FIG tem a proposta de expor e debater o conceito de Teatro Alternativo em Pernambuco. Com uma programação inteiramente composta por espetáculos pernambucanos, vai acontecer na Galeria Galpão, assim como as apresentações do Literatura em Cena. Outros dois espetáculos irão acontecer em ações descentralizadas por praças e bairros da cidade de Garanhuns. São eles: As Bodas de Umbigolina Goiabenta, no Projeto Som na Rural e Esquetes de Teatro de Rua, do Movimento de Teatro Popular.

Confira a programação completa de Teatro do FIG:

LOCAIS DOS ESPETÁCULOS
TEATRO: Teatro Luiz Souto Dourado
2ª MOSTRA DE TEATRO ALTERNATIVO E LITERATURA NA CENA: Galeria Galpão

Sexta-feira, 21/7

TEATRO ADULTO
18h – Rosa Choque
Coletivo Os Conectores (MG)
Direção: Cida Falabella
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 55 minutos

O espetáculo apresenta uma abordagem sobre a violência contra a mulher: violência sexual, social e moral. Além da vivência dos atores, a obra foi criada a partir de notícias divulgadas na imprensa e nas redes sociais sobre os frequentes abusos.

Sábado, 22/7

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL
17h – Cabaret Brecht, canções de Kurt Weill e Bertolt Brecht
Com Cida Moreira e participações de Arilson Lopes e Maeve Jinkings
Local: Teatro Luiz Souto Dourado
Classificação indicativa: livre
Duração: 1h20

TEATRO ADULTO
18h30 – A Erudita
Priscilla Cler (PB)
Direção: Antônio Hildebrando
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 45 minutos

Uma soprano, um pianista e uma pitada de ironia. A Erudita descobre as diversas possibilidades de interpretação de compositores como Mozart, Debussy e Piazolla, libertando-se das duras tradições da música erudita.

LITERATURA NA CENA

20h – Bate-papo “A influência dos contos de Caio Fernando Abreu e Marcelino Freire”
Com Marcelino Freire (PE/SP), Breno Fittipaldi (PE) e Rodolfo Lima (SP)

22h – Réquiem para um rapaz triste
Teatro do Indivíduo (SP) | Rodolfo Lima
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 1h

O espetáculo apresenta ao público a personagem Alice, inspirada nas personagens femininas do autor Caio Fernando Abreu. Alice é uma mulher solitária, que apoiada no cigarro, fala sobre suas escolhas, do amor, da falta, da solidão e da procura.

23h30 – Bicha Oca
Teatro do Indivíduo (SP)
Direção: Rodolfo Lima
Classificação indicativa: 18 anos
Duração: 1h

Inspirada nos contos homoeróticos do autor Marcelino Freire, a peça versa sobre a realidade de Alceu que rememora os hábitos do passado, suas histórias amorosas e seus questionamentos.

Domingo, 23/7

LITERATURA NA CENA

20h – Bate-papo “Cervantes no Contemporâneo”
Com Ivaldo Vasconcelos (PE) e Maksin Oliveira (RJ)

22h – O Incansável Dom Quixote
Magnífica Trupe de Variedades (RJ)
Com Maksin Oliveira
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 1h10

Adaptação do romance de Cervantes, com histórias fantásticas do famoso cavaleiro errante que sai de casa com o desenfreado desejo de transformar o mundo num lugar melhor.

TEATRO PARA INFÂNCIA

10h – Estação dos Contos
Grupo Estação de Teatro (RN)
Direção: Rogério Ferraz
Classificação indicativa: livre
Duração: 45 minutos

Espetáculo de contação de histórias de tradição popular, intercaladas com músicas originais executadas ao vivo, músicas do cancioneiro infantil e brincadeiras populares.

Segunda-feira, 24/7

TEATRO ADULTO

18h – O Açougueiro
Alexandre Guimarães (PE)
Direção: Samuel Santos
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 50 minutos

O espetáculo é uma história de amor no sertão nordestino que também mostra o lado sombrio dos sentimentos humanos, dividindo-se entre diálogos, cantos, toadas e aboios de vaqueiro.

2ª MOSTRA DE TEATRO ALTERNATIVO
22h – A Última Cólera no Copo de Meu Negro
Cia. Experimental de Teatro (PE)
Com Raphael Gustavo
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 1h

A peça fala sobre racismo, amor e a subjetiva liberdade acerca do ser humano e o sexo, sexualidade, religiosidade, cultura e fé. Numa senzala, Bastião está preso com o seu escravizado. O tempo passa, e ele revive as memórias do passado.

Terça-feira, 25/7

2ª MOSTRA DE TEATRO ALTERNATIVO

22h – Eu gosto mesmo de pezinho de galinha porque eu como a carninha e limpo o dente com a unhinha
Experimento Pezinho de Galinha (PE)
Com Nínive Caldas e Eric Valença
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 1h

Atores se revezam em personagens que contam histórias horas cliché, horas cruas de realidades escondidas por cidades grandes higienistas: o ponto de prostituição, a Igreja evangélica, o presídio, o subúrbio.

Quarta-feira, 26/7

TEATRO ADULTO
18h – A Descoberta de Um
Grupo Claricena (PE)
Direção: Anderson Vieira
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 40 minutos

Dentro de seu momento de reconhecimento enquanto um ser longe de um arquétipo, Antônio não se identifica com a sociedade em que está inserido, nem com os padrões estabelecidos.

2ª MOSTRA DE TEATRO ALTERNATIVO

22h – Que muito amou
Cênicas Cia de Repertório (PE)
Direção: Antônio Rodrigues
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 1h10

Livre adaptação do livro “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” de Caio Fernando Abreu. Contos que falam sobre o amor e sua relação com a morte, saudade e ódio: Sapatinhos Vermelhos, Praiazinha e Dama da Noite.

Quinta-feira, 27/7

2ª MOSTRA DE TEATRO ALTERNATIVO
22h – Delicado
Coletivo Grão Comum (PE)
Com Daniel Barros
Classificação Indicativa: 16 anos
Duração: 55 minutos

Baseado na tragédia brasileira presente no conto homônimo de Nelson Rodrigues. Gira em torno dos conceitos morais presentes nas famílias, onde imperam o machismo e o preconceito.

Sexta-feira, 28/7

TEATRO ADULTO
18h – Mucurana, O Peixe
Construtores de Histórias (PE)
Com audiodescrição e libras
Direção: Carlos Carvalho
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 50 minutos
Com audiodescrição e libras

Adaptação do conto “O Peixe”, de Hermilo Borba Filho, a história traz um homem ingênuo, morador de rua, que carrega consigo apenas canções, uma lata de farinha e lembranças do cavalo-marinho.

2ª MOSTRA DE TEATRO ALTERNATIVO
22h – O Velho Diário da Insônia
Alessandro Moura (PE)
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 50 minutos

Tragicomédia costurada com poesias e canções. O ator leva ao público histórias vividas em sua infância e adolescência. Uma atmosfera de saudade e reflexão sobre o tempo. Remonta uma noite de insônia de um homem à beira da loucura.

Sábado, 29/7

TEATRO PARA INFÂNCIA
10h – Vento Forte para Água e Sabão
Companhia Fiandeiros de Teatro (PE)
Direção: André Filho
Classificação indicativa: livre
Duração: 55 minutos
Com audiodescrição e libras

O musical narra a história de amizade entre uma bolha de sabão chamada Bolonhesa e Arlindo, uma rajada de vento. Vivem uma divertida aventura, descobrindo o mundo e dando sentido à sua pequena existência.

TEATRO ADULTO
18h – Eldorado
Eduardo Okamoto (SP)
Com audiodescrição e libras
Direção: Marcelo Lazzaratto
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 1h

Acompanhado por uma “Menina”, um cego busca encontrar o que nenhum homem pôde jamais: Eldorado. Toda estória se resume nisto: era uma vez… um homem que procura.

2ª MOSTRA DE TEATRO ALTERNATIVO

22h – A Máquina
Teatro de Retalhos (PE)

Direção: Djaelton Quirino
Classificação indicativa: livre
Duração: 1h45

Adaptação do texto de João e Adriana Falcão, o espetáculo é uma fábula contemporânea que se passa numa cidadezinha chamada Nordestina, distante de qualquer lugar, e aborda o êxodo e a falta de perspectiva, mas também a cultura viva, nossa musicalidade e poesia e sobretudo, a capacidade de transformação da realidade.

 

Fonte: http://www.cultura.pe.gov.br 

» Confira a programação completa do FIG 2017