FIG saúda a obra de Belchior com tributo e público apaixonado

Público lotou o Palco Mestre Dominguinhos nesta sexta-feira (21), quando teve shows de Amanda Back, Mundo Livre S/A, Geraldo Azevedo e o Tributo a Belchior

Uma catarse coletiva tomou conta da primeira noite do Palco Mestre Dominguinhos do FIG 2017 nesta sexta-feira, 22. Boa parte da programação foi dedicada à memória e à obra do cantor Belchior. Falecido neste ano, um dos homenageados desta edição do Festival de Inverno, – ao lado de Ariano Suassuna e Hermilo Borba Filho -, teve seu legado artístico revisitado por praticamente todas as atrações da noite. De uma forma ou outra, prestaram um momento de carinho ao músico cearense, referência artística e política para diversas gerações, inclusive a juventude.

Foi emocionante ver que, mesmo depois de tanto tempo sem produzir músicas novas e longe dos holofotes, Belchior e sua poesia inspira e emociona os jovens do nosso tempo. Como disse sua irmã, Ângela Belchior na noite de abertura do FIG 2017, “ele adorava estar entre a juventude e através dessa homenagem dá pra sentir que ele está vivo dentro de nós”.

As apresentações começaram com Amanda Back dando uma mostra da sua carreira como cantora solo, para em seguida dar vez ao show potente da Mundo Livre S/A, inspirado nos clássicos da carreira, como Free World, Meu Esquema e Computadores. A apresentação teve como mote o DVD Mangue Bit, lançado em 2016, e teve uma formação repleta de craques da música: Leo D. (teclado), Xef Tony (bateria), Pedro Rasta (baixo) e Carlos Amarelo (percussão). “Tivemos que adaptá-lo ao formato do festival e essa é uma tentativa de trazer um show que faça a galera dançar e pular”, explica Fred Zeroquatro, vocalista da banda.

Sobre a noite em homenagem a Belchior, Fred Zeroquatro descreveu alguns detalhes de sua iniciação com a música. “Assim que eu aprendi os meus primeiros acordes de violão, um dos primeiros discos que eu comprei foi de Belchior. A coisa do verso e da poesia foi ele quem me ensinou, como na música Alucinação. Comparando com a situação de hoje, Belchior se lançou ao grande público através da rádio, e se você compara aquele cenário com as rádios de hoje fica difícil até fazer essa comparação porque elas estão com uma programação que agride a sensibilidade da musica brasileira”, opina.

Contemporâneo de Belchior, Geraldo Azevedo emocionou o público com uma compilação de clássicos como Pro Que Der e Vier, Bicho de Sete Cabeças e Cravo Vermelho, todas cantadas com apoio maciço dos fãs.

Um dos admiradores do cantor pernambucano que estava na plateia era o sanfoneiro Mateus Cordeiro, que toca sanfona desde os 11 anos e hoje tem 17 anos. Tudo o que Mateus queria era apenas conseguir que Geraldo Azevedo autografasse dois vinis que o jovem sanfoneiro havia ganhado de presente dos avós. “Escuto ele desde pequeno e recentemente fui presenteado com uma vitrola e alguns vinis, dentre eles esses dois de Geraldo estavam no meio. Na hora não acreditei. Ele é muito importante para a minha formação como músico”, disse ele, emocionado, após conseguir uma assinatura do ídolo nos encartes dos seus discos. O jovem músico Mateus Cordeiro é também uma das atrações do Palco Forró do FIG 2017, na próxima quarta-feira (26).

Num determinado momento do espetáculo de Geraldo Azevedo, ele dedicou uma canção ao amigo e homenageado Belchior. “Isso não estava previsto no repertório, mas quando estava vindo pra cá soube desta homenagem e a situação me fez lembrar de quando ele me apresentou pela primeira vez essa canção que vou cantar agora. Quando ouvi pela primeira vez fiquei bastante emocionado”, revelou, para emendar com a música Mucuripe, entoada a plenos pulmões pela multidão.

Mas o grande destaque da noite sem dúvidas foi a última atração da Praça Mestre Dominguinhos, quando teve início o espetáculo musical Tributo a Belchior. O show reuniu um time de peso para prestigiá-lo, nomes como Lirinha (PE), Isaar (PE), Ednardo (CE), Angela Ro Ro (RJ), Cida Moreira (SP), Tulipa Ruiz (SP), Fernando Catatau (CE), Juvenil Silva (PE), Renata Arruda (PB) e Gabi da Pele Preta (PE). A banda contava ainda na formação com Rafa Brandão (bateria), Rogê Victor (baixo), Samuel Nóbrega (teclado) e Juliano Holanda (guitarra), que produziu e dirigiu o espetáculo.

Alguns artistas cantaram duas ou apenas uma canção durante o show. Foi o caso de Angela Ro Ro, que levou ao palco a música Paralelas, protagonizando, com sua intensidade artística, uma das interpretações mais bonitas e sinceras da noite. “Essa é a minha primeira vez no festival, nesse inverno nordestino maravilhoso. O FIG é uma vitrine importante para a música e estou acompanhada de uma turma maneira, mas com uma imensa saudade do meu amigo Belchior. E ao mesmo tempo uma imensa alegria de estar com meus colegas fazendo um tributo a esse inesquecível homem”, revelou Angela Ro Ro, que fará um show solo neste sábado (22), no Som na Rural.

Quem começou com a série de performances dedicadas a Belchior foi o pernambucano Lirinha, que fez uma entrada avassaladora com a música Divina Comédia Humana. “Enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, eu canto”, gritava ele, com a energia da plateia que envolvida na catarse coletiva se entregava de corpo e alma – muitas pessoas choravam emocionadas com o resgate do repertório de Belchior. Lirinha ainda voltou mais tarde ao palco para encantar dessa vez com a música Medo de Avião.

Outros momentos ficaram eternizados na Praça Mestre Dominguinhos nesta sexta-feira (21), como a coragem e força musical de Cida Moreira, que não se esquivou quando subiu ao palco sozinha, sem a banda de apoio, apenas com o teclado e sua voz. Ou quando Juvenil Silva sintetizou a energia que a homenagem em si pretendia passar, revelando o verdadeiro recado da história: “Estamos vivendo uma fase que as coisas estão saindo meio errado, mas das coisas que aprendi com o Belchior é que a felicidade é uma arma quente. Precisamos lutar com mais amor, paixão e inteligência para construirmos um mundo melhor”.

 

Fonte: http://www.cultura.pe.gov.br